A Polícia Civil do Amazonas prendeu, na última segunda-feira (20), Sophia Livas de Morais Almeida, suspeita de atuar ilegalmente como médica em Manaus. A prisão foi resultado de um desdobramento das investigações iniciadas após a detenção de Gabriel Ketzel da Silva, um estudante de educação física que também exercia a medicina sem habilitação em diversas unidades de saúde da capital.
Gabriel foi preso no dia 29 de abril, suspeito de atuar como ortopedista, clínico geral e pediatra, inclusive atendendo crianças em situação de vulnerabilidade. De acordo com as investigações, ele se envolvia em um esquema em que médicos que deveriam estar de plantão pagavam para que ele os substituísse. Áudios obtidos pela polícia mostram negociações de plantões com profissionais da saúde, evidenciando a gravidade do esquema.
Após a prisão de Gabriel, novas denúncias levaram a polícia até Sophia Livas. A médica foi localizada enquanto se exercitava em uma academia de alto padrão na Zona Centro-Sul de Manaus. A abordagem foi realizada por uma equipe que já monitorava a suspeita com base em várias denúncias.
Segundo o delegado Cícero Túlio, responsável pela operação, Sophia se infiltrou em um grupo de pós-graduação da área médica, onde conquistou a confiança de diversos profissionais ao afirmar que também era médica. Com isso, passou a integrar projetos de atendimento a crianças com cardiopatias graves. As investigações indicam que ela chegou a emitir receitas médicas e atestados falsos.
“Ela chegou a utilizar o carimbo de uma médica verdadeira, com o mesmo primeiro nome, e prestava atendimentos como se fosse profissional da saúde. Isso colocava pacientes em risco”, afirmou o delegado.
Na casa de Sophia, os policiais apreenderam jalecos, medicamentos, receituários do SUS e documentos médicos. Alguns dos documentos estavam preenchidos com os nomes de médicos que já haviam relatado à polícia terem sido vítimas do uso indevido de suas identidades.
Entre as vítimas de Sophia estão, pelo menos, duas crianças autistas que teriam recebido medicamentos controlados prescritos por ela. Há ainda relatos de pacientes que perderam o emprego após apresentarem atestados falsos emitidos pela suspeita.
Apesar de negar ser médica durante depoimento, Sophia se apresentava como tal nas redes sociais, onde também afirmava, de forma falsa, ser sobrinha do prefeito de Manaus, David Almeida — informação desmentida oficialmente pela Prefeitura.
O Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), onde ela teria conseguido o carimbo de uma médica, informou que Sophia nunca atuou na unidade. A Universidade Federal do Amazonas confirmou que ela foi aluna de mestrado em educação física, mas que atualmente não possui nenhum vínculo com a instituição.
O Conselho Regional de Medicina do Amazonas (Cremam) declarou que ainda não recebeu denúncia formal sobre a atuação de Sophia como falsa médica, mas acompanha o caso. Até a última atualização desta reportagem, as defesas de Gabriel e Sophia ainda não haviam se manifestado.
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